sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Casa

Um peso. A casa continua morta nos móveis, nos guardados. Basta abrir uma porta do armário e fazer despertar os objetos dentro de caixas prontos para uma mudança futura. E quando será a mudança? Ela espera. Talvez abandoná-los ao gosto da chuva e das esquinas de sol obsessivo sobre as ramas que nascem das rachaduras de concreto. Ali deixá-los. Todos. A casa então vazia, completamente morta, agrupa em seus espaços vagos a própria essência, o lugar não lugar, a invalidez de suas prateleiras como a um deficiente - seja o que for a deficiência, talvez um olho que não capta mais o amarelo e tudo por ele é azulado mórbido, diluído. A casa uma letra oca que não encontra no vácuo qualquer suporte que a faça letra, existir, quem sabe uma palavra, (...). O que permanece vivo são as marcas na madeira, rios embalsamados, mares e praias, lagoas duras sob um vento constante. Toda vida ali deixada é a imagem sem querer ser dos tacos mal encerados. Agora leve, qualquer brisa faz agitar de seus móveis, - que não são mais que os furos alinhados nas paredes formando constelações de memórias - eiras.

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