O que sei do mundo? E como saber? Há notas dentro que nascem de um instrumento estranho, desconhecido das palavras e que existe além de um porta retratos ao lado da máquina de escrever. O que me interessa é o que não existe entre eles, o espaço entre uma palavra e outra, quem sabe uma vírgula. Justamente aí me movo e aqui estou diante da fruta do tempo, uma romã, escrevendo. Primeiro tenho em mãos esta figura torta do não sei, o sentimento. Ele que me trás à tipografia arquitetura das letras o que sinto. Sei, a difícil palavra do saber, a lavoura do que não plantei e rego com todo corpo líquido este campo. São seus olhos que me dão o amarelo do trigo, a superfície do vento, a colheita e preparação do pão palavra e também o que existo nas faíscas que saem do trabalho martelo/aço/bigorna. Assim estou a ser seu pai. Eu, pai. O que sei do mundo? E como saber, minha filha? Somos os dois as pontas de teus dedos que respondem ao mundo suas experiências, somos tuas sedes. Talvez eu seja teus silêncios e somos os dois silêncios entre uma palavra e outra. O que sinto, essas notas, mora no que não sabemos um do outro. Amor deve ser isso, a paixão pelo que sabemos não saber e queremos continuar não sabendo. São tantos. Olhamos então dentro de nossos vazios, o espaço entre as nossas palavras, e nos encontramos, rimos, amamos. Como dar um fim a algo que não se sabe como começou? Se há um fim, que seja apenas um ponto ao final do escrito para que ele depois saia voando por esses espaços feito mosquito. Vou dizer escrito para que faça par ao mosquito. Escritos e mosquitos zumbem, só que um é pelas asas e o outro também.
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