Um
exemplo de infinito pode ser observado numa lagoa onde um ou mais patos nadam.
O ideal é que um pato esteja nadando isolado do bando. O vértice criado por
ele, o ângulo que forma a abertura, as ondas que se abrem por detrás do pato, se
pensarmos o universo como um único lago, esta abertura de onda criada não teria
onde terminar, continuaria se abrindo infinitamente. Com isso, um único pato
neste lago seria capaz de, por um único ponto, percorrer todos os outros pontos
do universo de forma interminável, através de ondas, do seu comportamento, do
seu movimento. Esta abertura não seria apenas observada na superfície, mas
também resultado de outras dimensões, camadas, uma delas é o que move o pato,
suas necessidades e vontades, num outro campo. O que pode vir a fazer o pato se
mover é tão misterioso quanto as ondas para um observador que está numa
distância em que não se pode ver ou saber da existência do pato. Para este
observador alcançar o entendimento da onda, teria que se dirigir à fonte, onde
está o pato. Dependendo da velocidade ele nunca o alcançará ou então demorará
muito ou pouco para alcançar, pois neste exemplo o pato é imortal e está sempre
se movendo. Alcançando, encontrará, então, a “origem” das ondas e, da mesma
forma que o pato, já que está numa lagoa infinita, produzirá outras ondas que
poderão ser vistas por outro observador além. Ao pato, agora real, não se pode
afirmar que ele tenha conhecimento das ondas que produz, apenas que “sabe” como
produzi-las. O que se pode dizer de ambos (patos e ondas) é insuficiente se nos
conformarmos com a palavra que os denominam, “patos” e “ondas”. Buscar
entendê-los é caminhar sentido à fonte e neste percurso podemos nos confundir
com outras ondas produzidas por outros patos, outros observadores ou por nós
mesmos. Buscar as fontes é percorrer um caminho inesgotável, talvez
inalcançável. O princípio nos foge, como nos foge o entendimento do próprio universo,
o que continha antes, o “nada” e também a compreensão do “tudo”. Supor que
estamos em contato todo o tempo com o princípio, o que havia antes dele, bem
diante de nós, é também produzir ondas como os patos. Imaginando a construção
do entendimento do universo através da imagem de um lago e que todo
comportamento gera ondas, nenhum comportamento pode ser semelhante a outro ou
acontecer igual e ao mesmo tempo que outro, já que os resultados de ondas
produzidos por eles nunca serão os mesmos. E também é possível pensar que todos
os comportamentos são iguais e acontecem ao mesmo tempo de forma semelhante,
seja o latido de um cão ou os dedos digitando este texto, já que todos eles
ocupam o “mesmo espaço” e toda onda reproduzida por eles viajarão, de certa
forma, pela mesma “matéria”. A “solidão”, neste caso, existe apenas num
conceito, é impossível de existir já que não existe nenhum fato acontecendo de
forma totalmente isolada. Até mesmo a minúscula partícula que forma uma matéria
estática e “inanimada” está sujeita a transformações e tem sua parcela no
movimento das ondas, uma vez que a água do lago nunca estará completamente
parada. Se pensarmos num espelho que existe no final de tudo, margeando toda a
extensão do lago, ao lado e acima, veremos então literalmente o reflexo de
nossas questões acerca da vida, a principal delas, “quem somos nós?”. Somos o
que está dentro ou fora? As ondas que batem no espelho e voltam são as mesmas
para dentro e para fora dele? O que está acima e abaixo deste lago é o campo de
submersões avessas, idênticas, que podem ser comparados a um pêndulo de relógio
onde a cada variação no espaço cria a ilusão do movimento, já que o pêndulo
está em todos e em nenhum lugar ao mesmo tempo. Esta ilusão se constrói como
uma espiral, lançando novamente uma outra onda para um novo campo infinito. A
ilusão gerada pelo pêndulo, no caso das dimensões do lago, é o que dá vazão aos
pensamentos, onde estamos produzindo ondas neste campo que se confunde com o
real e que o real não se pode avaliar ou afirmar já que é todos os lagos e
ondas numa matéria só. Desta maneira, qualquer movimento, comportamento, é reflexo
do que vem a ser o universo, o que nos abarca, já que ele é um desdobramento em
si mesmo, simetricamente, onde reina o princípio das possibilidades.
Nunca mais serei capaz de ver patos na lagoa e ver só patos na lagoa...
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