No mesmo céu sobrevoam helicóptero e urubus. Cinza, pesado, rabiscado de nuvens, por onde também um guindaste alaranjado desliza soberano e calmo, indiferente aos convidados que chegavam aos poucos, recebidos numa área separada onde a chuva não viria incomodar. É quase noite e o garçom já havia deixado transbordar o refrigerante no vestido de uma senhora de olhos verdes que todos evitavam. Todos se evitavam, na verdade, buscavam alguns grupos de conversas para não deixar evidente que nas festas de família há sempre um por detrás do formalismo que sustentam.
Aqui, caixas de papelão com livros, alguns pigmentos e um rádio desligado. A cama bagunçada do ontem, a tentativa de se encontrar perdido por um desejo que é carne e além do mais, os dedos desobedecendo e insistindo por um corpo que se despia devagar. Toques, bocas a encenar em delicada peça musical cuja trilha é um bandoneon dissolvendo os espaços do quarto, apagando, deixando a luz quente dos corpos. Seios por explorar, cada pinta. Detalhes de um lençol desde já. Pequenas partículas cristalizadas aos sulcos grossos de minúsculas rotas, jogadas em gotas pelo chão, chuva interna a sair dos poros.
Há muitos intervalos não ditos, outros não pensados, não vividos. Dizer que se vive o inteiro de uma vida é mentira.
No fim da noite, um samba bem perdido, uma embriaguez e uma luta de boxe.
A cama, a mesma, guardada de cheiros que acordaram de um dia que novamente acaba.
Tentando de novo
ResponderExcluirPassei por ali de um outro lado
Em um outro lado
Ao lado.
Configurando as imagens em palavras
Muitas palavras.
Alguns sentimentos. Outros sentimentos.
Logo ali do lado
Junto.