Pequenas rãs na caixa d'água
tomando a boia como cais
provando a onda
Liturgia de poucas horas
e acalma,
numa forma desencontrada
Nos vimos sob a copa de
uma esquina
de lá ou de cá
trombamos olhares
que se derramaram
conforme a chuva
Te apresentei
tico-tico
te pude cem
o que eu tinha
Abril, essa rua
de uma festa
que não pude ir
o vestido me apertava
senti náusea
ao passar pela barbearia
não pela navalha
Era Abril.
Bê, ler seus textos me fez refletir na qualidade poética de quem os produziu. Não consegui me prender (ou me perder) nas palavras mesmas, mas foi inevitável uma análise comparativa (!?). Percebe que enquanto você expande eu analiso? Nunca, ou melhor, provavelmente eu não conseguiria escrever assim. Sua percepção é ampla, vagante, vagabunda. Imagino ondas eletromagnéticas se expandindo. Eu funciono como um circuito eletrônico seguindo as rotas tão belamente gravadas na placa, corrente elétrica nos caminhos de cobre. Acho uma beleza naquela 'inteligência', no chiste, no elaborado, no propositado. Você, como um rio, vê beleza no acidental, no fluido, na inconstância. Acho divertido que há um tempo atrás nossas sensibilidades poderiam ser etiquetadas como 'feminina' e 'masculina'. E, mais saboroso ainda, o fato de elas estarem invertidas entre nós... Sou metódica, detalhista, me delicio com o que é ordenado, proposto, logicado, respiro o que compreendo. Me encanta o detalhe que sobressai ao todo. Você é solto, desordenado, instável. se encanta pelo que é espontâneo, não programado, respira o que sente. O que te envolve é o detalhe no todo. Você é verso, eu sou prosa. Você é a Líria e eu o Drama. Você, o vento e eu o partenon. Você é Poisedon e eu Atená. Você expande, eu classifico. ambos filósofos, você sofista, eu aristotélica. Você é biólogo marinho e eu espeleóloga. Você usa luneta e eu microscópio. Você é sutileza e eu potência. Você desconstrói e eu comparo, daí este texto. Mas o lindo é que não colidimos, nos complementamos, não há choque, há fusão (e confusão). Se pudéssemos nos reproduzir, como seria nossos frutos? Você pôde perceber que esse texto a tudo categorizou, sendo um texto meu. E provar meu ponto, você podia me mandar ir tomar banho.
ResponderExcluirprova disso é que não consigo etiquetar as coisas, compará-las às outras. Não que esteja o meu modo na direção certa, pelo contrário, é melhor que esteja mesmo na incerta, no erro, ou em direção alguma (o que é melhor). Talvez seja essa uma maneira de reinventar as formas, alguma coisa que tento achar e que está aqui, naquilo que me sobra viver, tomar esse líquido e vibrar quando ele transborda, como já conversamos. Por isso, não posso dizer, ou posso, ser de uma maneira ou de outra, acho que isso se revela na poesia, essa ainda tão inconclusa, tão insabida, tão às avessas ou querendo ser às avessas de toda forma, querendo um pouco mais de coragem e sempre mais um pouco. Sim, nos complementamos.
ResponderExcluirVamos tomar banho juntos!