A
estrada é de terra, essa.
Por cima dela, uma montanha.
A montanha é de pedra
e
de terra e de raízes
e pequenas árvores.
O mês é janeiro
e a chuva veio
nos
ventos
dos meses passados.
A chuva caiu sobre
a montanha
e sobre a casa
e sobre
a grama
e o antigo galinheiro.
A chuva não é de pedra,
mas o telhado soou
a
cada gota o seu tamborim
de cerâmica
como se fossem as gotas
dedos de pedra
de
um percussionista.
O córrego foi desenhado pela água
e se encheu de chuva,
passou por cima do canto do galo,
apagou da lama as pegadas da criação,
varreu
o terreiro,
abafou o chiado da panela no fogão,
gotejou na sala,
no quarto,
em
cima da cama,
abafou também as vozes
de dentro da casa,
o córrego transbordou
junto com a fé,
um terço corre feito enxurrada
nas mãos da senhora
que sopra
sua oração.
A chuva e a oração.
A janela nada vê
além da cortina branca
encharcada.
Nem pio, o mundo é uma pia.
Escurece, como todos os dias,
quando chove antes da
noite.
A noite, atrasada, apaga
o mundo borrado
e no sem vê só se escuta
a
sombra do copo de água benta
que agita-se na parede
iluminada pela vela.
No
prato, a colher persegue
o grão cozido da panela muda
e o metal nos lábios
é
mais frio que a chuva,
ainda que tenha roubado
da comida o calor fugaz.
A brasa.
O tição são os olhos do gato
adormecendo.
Abrasa a esperança
que aquece a cama
e daquilo que é silêncio
se ama como correnteza,
enxurrada,
pra dentro dos
lençóis.
Amanhece
e a estrada de terra
agora tem suas veias expostas,
por onde
passou
o que se derramou
e foi embora.
Bebeto poeta de coração, de intenção, de escuta de olhos passeantes. Poesia que escorrega feito prosa mansa depois da chuva. Obrigada por compartilhar. Feliz, feliz 2018!!!
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