sexta-feira, 28 de julho de 2017

De mais cedo

Ontem, pela manhã, o arbusto de folhas roxas
havia sido em parte destroçado
Por um animal grande que ronda abaixo das estrelas
com sua pata sobre a terra pisoteada
pelo sol.

Hoje, pela manhã, o compadre soube da poda
Do que se estragou do arbusto de folhas roxas.

Veio pedir os galhos destroçados para deles fazer mudas.
Estavam sobre as folhas das piteiras que apodrecem
Sobre a terra de mandiocas.

Com tesoura, calmamente, separou pequenos talos
Mãos que conhecem a geografia de uma enxada
Enquanto no fogo a água acusava pequenas bolhas
Tímidas, aquecidas pelo desejo do café amargo.

Sentamos os dois, trocamos no hálito o hábito da prosa
E do café pela manhã, as demandas dos próximos dias
Quando preparamos a surpresa sabida para surpreender-nos
Durante o tempo em que novas velhas bolhas anunciam
Outras cadeiras puxadas, próximas à mesa, acompanhadas
Por pares de pernas cruzadas com café. 

Logo mais, a comadre veio depois que acabou a missa
- Afinal, é domingo de manhã –
Trazer a lona pesada para proteger o tear.
Disse ter pressa, infinitos braços, pois Chico tem as pernas doentes
E precisa chegar para sentar ao sofá e respirar.
Respirar o dia arrastando passado. 

Outra comadre, mais tarde, veio com sua companheira
Abraços e sorrisos, entraram, ergueram uma casa, 
queijo e goiabada, o café de mais cedo
Ovos sobre a mesa, levaram cinco deles. 

O vento, visita constante, leva-nos aos outros
para dentro das casas sem ter os pés limpos no tapete da entrada.

Outro compadre, ladrou o cão, apoiou-se na porteira.
Aceno, que entre com seu baú.
Mãos sujas do barulho que mais cedo
Soava de sua casa, sinfonia do domingo de quem não para.
Mãos apertadas, entramos os dois.
Café de mais cedo e um pedido:
Broca que fura alumínio.
Broca universal, disse-me um vendedor.
Tanto é a palavra universal, o compadre olhou impondo
Dúvida. 

O dia ilumina intenso o socado chão,
O ninho do guacho respeita as vontades do vento
E logo sua silhueta apenas no findar rubro duro
Que se encerra detrás e diante de nós.
Amanhã, serei eu a visita-los.
Desde suas presenças, respeitamos
As vontades dos ventos e trocamos
Pequenas coisas que não se vê
E que irão dormir em nossas camas
E que irão acordar no que se encerra.
No horizonte, o desejo desperta

Da esperança, a felicidade.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Duas Pedras

Com as mãos nos olhos, agarrou as pedras
Duas pedras frias ausentes que se destinam
A serem miradas na paisagem.
Roubá-las, as duas, para que se despenquem
Do rosto, abrindo caminhos por um corpo montanha,
Caindo decisivas às margens de um rio.
Desde ali, uma lua meia lua as mira
Percorrendo o leito das águas azuladas entre pequenos seixos.
Tantos olhos compridos como serpentes vão
Até o improvável, um largo que se acosta nas margens do infinito.
Tantos olhos duros que tem as cinzas do que é tempo, o escavado.

Sobre a sede de uma rês, fendas abertas caminham.
Duas pedras negras soltas no corpo montanha
Preenchem a vaga de uma muralha remota
Suspensa e fluida erguida por ninguém.

Este é seu povo, seu quintal, sua casa, sua cama barco e vela
E a curva que se apresenta contém nas extremidades duas mãos.
Seus olhos arrebatados abrem trincas sobre as pedras
Por onde sinaliza o véu branco infindável do leite destinado
a saciar a fome do mundo e a tecer seus restos nas bordas do infinito.