Há de haver brechas para que a
vida se articule em alguma outra coisa, de alguma outra forma. Se não tudo
poderia se passar em dor de garganta ou vizinhas por trás da janela. Para mim
existe o estranho estranho. E não é uma
pessoa, nem um acontecimento, nem um objeto, nem uma sensação. É tudo isso
misturado, junto, praticamente uma entidade sem rosto nem nome. Seria o vento?
Digamos que não sei definir mas que ele existe, existe.
Acho que o estranho estranho veio
dos tempos primórdios e brigou com outras entidades sem rosto e sem nome para
estar hoje em dia aqui entre nós. Com certeza tinham outras entidades que acompanham outros povos, nossos
antepassados e que nem fazemos idéia do que elas eram capazes pois hoje elas
não mais pairam por ai. Então não sabemos daquilo que não experienciamos. Alguns acham que isso é ciência e está
associado às teorias Darwinistas, outros sentem a espiritualidade, tem aqueles que apenas se ligam à internet,
sem juízo de valores, podemos ser os
três ao mesmo tempo. Não importa, que ele teve embate com outros seres para
estar entre nós, ele teve, passou pela era glacial e as grandes navegações e cá
se acomoda nos dias de domingo enquanto famílias assistem televisão.
Quase sem querer, quem nunca
pegou um cigarro depois da bebida, de não mais saber o que fazer com as mãos
num momento de espera ou porque todos estavam pegando e sei lá. Ou sabe num
velório, você olha ao redor, as pessoas choram, não há muito o que ser dito, os
olhares se tornam distantes em vários momentos. Simplesmente é nessa hora que
está o estranho estranho. Ele está entre os objetos parados e sem função que se
juntam na garagem das pessoas de um bairro da zona leste ou no meio de uma
música de dez minutos, nos exatos cinco, onde você encontra-se osmótico. Talvez
numa garfada de arroz e feijão que você pensa por que arroz e feijão é arroz e
feijão e não batata com peixe. Quando um físico descobre a fórmula que queria
descobrir a vida inteira e depois olha para todos os papéis, todo o quarto.
Se fosse para eu descrever o
estranho estranho em um roupa seria uma capa preta de cavaleiro. Se fosse para descrevê-lo numa acentuação
seria reticências. Uma palavra? Deixe-me
ver, ornitolaringologista ou o nome de um autor do leste europeu, não pelo significado mas porque acho que
deveria ser um palavra complexa. Este momento de não reconhecer-se, de parada,
em milésimos de segundos ou alguns anos. E lá fica o estranho estranho em
gerações, acompanhando os pensamentos sobre se as pessoas são pessoas ou
extraterrestres. Marco Polo vendo um esquimó e um esquimó vendo Marco Polo e
ambos pensando: mas que porra é essa? Enfim, as coisas assim em brecha de
poderem ser o que não eram antes.
Por Ana Landia
-das belezas de ler-
Por Ana Landia
-das belezas de ler-