segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Afã

Nesta grama, mais verde, passava um riacho de água que vinha da serra atrás, limpa de beber. Era forte aquela água, descia numa rapidez tão imediata. A gente mesmo ficava lá por um tempo vendo aquela pressa toda, diferente d'água do rio largo que corre noutra textura - parece - não fosse pela margem, corre parado junto da gente. Uma coisa assim, boba, dá quase pra pegar na mão, guardar no bolso da camisa, levar pra ver de noite quando já deitado na cama à luz de pouca luz, na madrugada escondido sozinho, metido naquele rio, como uma esfera mesmo, dessas prateadas que a gente olha até. Depois deixa ela, o sono, e dorme como se fosse a continuação daquelas águas, uma coisa essa quase, em sonho levado adiante. Esse riacho na pressa toda, não dava pra pegar, não, era só ver e aquilo dava na gente uma pressa também, pra chegar logo, atravessar, ir pra onde a gente tava indo, que era a lagoa larga. Naquele tempo eu não sabia, como não sei agora. E o que é que a gente sabe? Sei que deitei todo naquele riacho, deixando a pressão daquelas águas miúdas e fortes contornar minha cabeça e jorrar aquela urgência pro resto do corpo, fria, parece que fui benzendo. Era esse lugar mesmo, todo lá no fundo raso junto dos cabelos de mato numa direção só. Era a única maneira de dizer coisa que não dá pra moldar nas palavras. Foi assim, no impulso, e eu disse. E foi assim também que era outra hora a de ontem, porque passa, atravessa, prateia, desemboca súbito quando vê que no bolso a gente leva nada, rio num pega na mão, ele é dentro, já tá. A memória é olho que fica no longe, trazendo pra perto, rio correndo ao revés.
E nesse tempo já sem chuva... noutrora aquela serra volta a falar do seu riacho pra gente e a gente a falar nele as coisas.











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